Acabei de postar um texto sobre vícios e manter a consciência perante a vida. Então, meu tio leu e comentou:
"Vícios são, realmente, grilhões na nossa vida. Li em algum lugar que, às vezes, encontramos pedras nos nossos caminhos e que, em alguns casos, nos afeiçoamos a essas pedras!"
Essas palavras me levaram até a experiência de imersão espiritual tântrica que tive há pouco tempo.
Vamos falar sobre pedras!
Quando resolvi fazer a imersão tântrica, não sabia direito do que se tratava, na verdade, já havia lido tudo que podia a respeito do assunto, mas mesmo assim, não conseguia entender completamente o que estava por vir. Olha aí novamente as expectativas nos furtando do agora...
Quando chegamos lá, o primeiro assunto do terapeuta foi sobre expectativas. Ele perguntava quais as expectativas havíamos suprido sobre o encontro.
Eu respondi que estava cheia delas.
Ele disse pra mim: viva o agora (não entendi naquele momento exatamente o que ele dizia).
Lá, nós não comeríamos carnes e nem usaríamos nenhum tipo de droga como álcool ou cigarro.
Ficamos lá por 4 dias, eu estava em paz, tão em paz que me permiti viver um dia de cada vez. Não senti nenhuma falta do cigarro.
Como pode?!?!
O próximo assunto seria sobre a pedra.
Então, o terapeuta pediu que nós pensássemos sobre pessoas com as quais temos problemas, pessoas as quais não perdoamos, pessoas pelas quais nutrimos raiva, mágoa, ódio e solicitou que pensando nessas pessoas, cada um de nós procurasse e pegasse uma pedra para chamar de nossa após o almoço.
Pediu também que ficassemos com essa pedra 6 ou 8 horas direto (não me lembro bem o tempo).
Como assim, direto?
Nós iríamos tomar banho com a pedra, iríamos comer com a pedra, iríamos fazer a massagem com a pedra, iríamos dormir com a pedra, nós iríamos viver com aquela pedra.
Acabado o horário de almoço, lá vou eu em busca de minha pedra.
A idéia era pegar a pedra que você se identificasse, a pedra que chamasse sua atenção, você precisava ter empatia pela pedra.
O local era lindo, um sitio maravilhoso onde ouviamos a natureza vivendo.
Caminhei, caminhei... cheguei a um círculo, imaginei que ali era o lugar onde as mulheres faziam as danças circulares... olhei para o lado e lá estava minha pedra. Bem redondinha, pensei: é claro que a pessoa tem tudo a ver com a pedra.
Me abaixei e peguei a pedra, imediatamente ela esfarelou na minha mão. Achei estranho... a pedra esfarelou?
Algo soava estranho, resolvi cheirar minha mão. .. Era cocô!
Sim, cocô porra, cocô de algum bichinho... fiquei muito puta da vida!
A pessoa me manda pegar uma Pedra pra lembrar de alguém que tenho mágoa e quando vou pegar a pedra que escolhi ela vira cocô?
É a vida te trolando e sorrindo na tua cara.
É o simbolismo marcante que te mostra que tudo faz sentindo e nada está no lugar errado.
-Nem eu naquele momento- de cocô na mão.
Fiquei injuriada e disse que não procuraria mais nenhuma pedra.
Quando voltei e contei para todos que minha pedra era cocô todos riram e ví a pedra de uma querida anja que estava por ali, ví que a pedra dela mais parecia um tijolo.
Achei então que meu cocô nem era tudo isso perto do tijolo dela.
Voltei e peguei minha pedra, no meu imaginario, ela tinha um formato de arma.
Pois bem, fomos eu e a Pedra tomar água, escovar os dentes... Logo depois, eu e a Pedra fomos conversar com as pessoas, fomos brincar com as crianças que estavam por lá e resolvi ir dormir, com a pedra...
E quem disse que eu dormi?
-pensamentos-
O terapeuta falou para segurar a pedra na mão, se eu colocar a mão com a pedra em cima do peito e relaxar para dormir será que vou estar infringindo a terapia ou só pode segurar mesmo?
Caraca quero colocar essa raiva em cima do meu peito? Não, né Marilia?! (Ingenuamente como se a pedra já não estivesse dentro dele)
Vou colocar em cima da minha barriga, puxa vida, vou colocar a pedra onde eu gero coisas boas? Perto do meu útero? Não, né Marília?!
Onde diabo vou colocar essa droga dessa pedra com essa mão? (Nesse momento não era mais a mão com a pedra, a pedra já fazia parte da mão.)
O tempo passou e eu segui pensando na pedra, na pessoa, na mão, na mágoa, na raiva e tudo aquilo foi se tornando parte de mim, adormeci bem leve e logo levantei para tomar banho com a pedra.
Eu realmente passei todo o tempo determinado com a pedra.
O meu companheiro -Heitor- quando estava me fazendo massagem ficou com tanta raiva que jogou a pedra longe. Ele disse que não aguentava mais fazer massagem pensando na "pedra" da vida dele.
Em algum momento eu também tirei da mão e coloquei ela dentro do meu bolso pois precisava me concentrar na massagem... outras pessoas colocaram dentro da blusa, em cima do peito...
Por fim, quando o tempo terminou o terapeuta pediu para que nós refletissemos a cerca de tudo o que vivemos com aquela "pedra".
Pediu que tentássemos perdoar a pedra e a nós mesmos que éramos parte da pedra, já que a pedra era parte de nós.
Naquele momento, quem quisesse já poderia se desfazer da pedra...
E quem disse que eu queria me desfazer da minha pedra?
Algumas pessoas jogaram no mato, outras guardaram no bolso.
A minha foi guardada para quando eu estiver pronta, entregar para a Pedra, ops, a pessoa em quem pensei.
A do heitor está no carro dele até hoje.
E você?
O que você fez com a sua pedra?
Esse vício já se tornou parte de você?
"Vícios são, realmente, grilhões na nossa vida. Li em algum lugar que, às vezes, encontramos pedras nos nossos caminhos e que, em alguns casos, nos afeiçoamos a essas pedras! Poxa, como complicamos as coisas."
Esse texto vai especialmente para a pessoa que me inspirou.
Obrigada meu Tio Rônie!
Lambeijos!