segunda-feira, 7 de abril de 2008

150 motivos


Pelos depoimentos que andei lendo nesses últimos 150 dias sem cigarro, prestei atenção num detalhe: parece que todos nós temos uma história familiar trágica para contar.

Perdi meu pai há 15 anos atrás vitimado por um carcinoma invasivo de laringe. Câncer este provocado em grande parte pelo tabagismo. Ele faleceu com apenas 57 anos de idade e passou os últimos meses de vida como um verdadeiro vegetal, pois teve uma ruptura de carótida logo depois da 2ª cirurgia no pescoço, realizada no INCA do Rio de Janeiro em outubro de 1992 e só veio a falecer em março de 1993 já em nossa cidade - São Luís - depois de 6 meses de total indiferença ao mundo, aos familiares e aos amigos que o visitavam. Não reconhecia ninguém, não comia, não bebia e foi definhando até morrer em meus braços por falência múltipla dos órgãos no dia 14 de março de 1993. Eu tinha 30 anos e já fumava desde os 15.

No ano seguinte perdi meu tio, irmão do meu pai, vitimado por um enfarto fulminante. Contava com 59 anos e fumante desde os 14 anos.

Depois disso, assim como alguns amigos dos blogs que costumo ler e freqüentar, buscava justificativas para aceitar o que aconteceu com meus queridos parentes e acreditar ser obra do acaso ou uma mera fatalidade familiar. Queria fazer crer que todo mundo tem uma missão na vida e que ela se encerra no momento certo e que nada pode mudar tal destino, seja essa pessoa fumante ou não.

Entretanto, depois de longos 15 anos, cheguei a triste conclusão que eu estava apto e rapidamente me candidatando a engrossar essa lista da "obra do destino".

Não adianta ser fiel a um Deus (meu pai era e muito!) acreditar que "coisa ruim" só acontece com os "outros" e que estamos imunes as tragédias. Somos todos iguais e estamos fadados às mesmas ameaças se não cuidarmos direitinho de nossa frágil máquina de carne e ossos.

Mesmo depois da morte do meu querido pai, ainda levei 15 anos fumando e tentando me enganar acreditando sempre que apenas a fatalidade o levou.

Levei mais 15 anos jogando fumaça dentro do peito diariamente por achar que aquilo me dava prazer. Prazer esse que, transcorridos 150 dias sem fumar, sequer sou capaz de descrever porque ele não é e nunca foi palpável, sendo apenas fruto da minha imaginação controlada pelo vício.

Hoje eu parei para pensar se o destino realmente tem influência decisiva na nossa vida ou se nós é que o construímos e o moldamos. Pois o meu destino poderia estar bem definido se continuasse consumindo minha dose diária de 25 cigarros e quiçá conseguiria chegar pelo menos aos 57 anos do meu pai. Certamente que não!

Não nos enganemos nunca mais amigos. Fumar mata! E quando não mata cedo, deixa sequelas irreparáveis e irreversíveis pelo resto da vida!

Semana que vem no dia 16 de abril estarei completando 46 anos e tenho plena convicção que o maior e mais valioso presente eu mesmo me presenteei no dia 09 de novembro de 2007. O dia em que decidi nunca mais fumar.

Depois dessa data até hoje, eu me dei 150 novos motivos para deixar de fumar e quero continuar tendo a cada novo dia, um novo motivo para nunca mais experimentar um outro cigarro na vida!